Professor-copeiro

Depois de três anos de (auto)exílio e uma turbulência universal, surge a necessidade de buscar sabedoria para buscar (mais) um emprego e seguir esse passeio doloroso e indesejável, prazeroso e surpreendente. No mês de agosto, experiências interessantes aconteceram (quase) de uma vez.

Depois almoça na Adega Típica de Algés, atrás de casa e comandada pela querida vizinha, a mineira Evinha, fiquei sabendo que ela está precisando de ajuda na cozinha. De imediato, aceitei: por grana, ocupação e solidariedade. Ritmo frenético, inimaginável. Clientela constante e fiel. Mais dinâmico do que muita casa antiga e requintada. Ementa portuguesa - com exceção da picanha e da feijoada. Foi o lugar que melhor pagou pelo serviço do funcionário. Todos com contrato, todos ligados por um espírito de família mesmo. Foi ótimo para (re)conhecer que é possível (res)significar a nacionalidade no estrangeiro. Gratidão! [Não seria possível continuar por férias do restaurante e urgência minha!]


Um entrevista em um restaurante português, mais isolado da centralidade e com um patrão - sem querer elogiar a categoria porque todos são iguais! - mais franco, senti-me uma segurança indescritível e segui procurando outros. Fiz uma entrevista em um restaurante no centro da cidade: Fábulas Café. O gerente foi, por demais, atencioso e generoso. O ritmo oferecido para o empregado de mesa: repartido e saída no meio do fervo na madrugada. Odeio inglês e teria de assegurá-lo no meio da competitiva e tradicional equipe de empregados de mesa. Marquei um teste antes de desmarcá-lo no fim da tarde.


Na entrevista seguinte, uma contratação imediata. Para aceitar, teria de aceitar começar no dia seguinte. Aceitei. Empregado de mesa na Nosolo Itália de Belém ao lado do Padrão dos Descobrimentos. Rotação de turistas sem parar. Colegas com seus vinte e poucos anos. Impaciente e nada de profissionalismo. Contrato assinado, caminhada ao trabalho, aprendizados: liguei para a primeira proposta, confirmamos a franqueza e desisti no quarto dia. O meu chefe, em três dias, orientou-me bastante, estimulou-me, motivou-me. Foi importante para (re)conhecer e (res)significar a juventude e a portugalidade.

Segui para a copa de um restaurante. Escolhi o primeiro degrau dele. Limpar tudo, trabalhar sozinho. E uma tranquilidade confortável. Nunca pensei tanto sobre tanta coisa. Sobre minha estrada, meu agora, leituras antigas, teóricos clássicos, sociedade cega e doente. Claro que a escolha necessitou da sabedoria de equilibrar burocracia imigrante (contrato), sobrevivência satisfatória (dinheiro) e paz (equipe pequena de pessoas bem diferentes). [Para isso, contei com a ajuda da minha amiga-irmã Alcina Ferrão: meu amuleto da sorte. Ela orientou-me, por saber que eu na copa sou o terror, e eu já entendo a necessidade de organização para ser despachado. Tudo tem seus conhecimentos. Tudo tem aprendizado. Tudo é tudo. É de tudo que tudo se faz. Achar que algo é pouco, é achar. E acha não é nada!]