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Odeio o Ano Novo


Todas as manhãs, ao acordar mais uma vez sob o manto do céu, sinto que para mim é o primeiro dia do ano. Por isso odeio estes anos novos a prazo fixo, que transformam a vida e o espírito humano numa empresa comercial, com prestação de contas, balanço e previsões para a nova gestão.

Eles fazem com que se perca o sentido de continuidade da vida e do espírito. Acaba-se por acreditar a sério que entre um ano e outro existe uma solução de continuidade e começa uma nova História; fazem-se promessas e projetos, as pessoas arrependem-se dos erros cometidos, etc. É um equívoco geral que afeta todas as datas.

Dizem que a cronologia é a ossatura da História. Pode-se admitir que sim. Mas também é preciso admitir que há quatro ou cinco datas fundamentais, que qualquer pessoa conserva gravadas no cérebro, datas que tiveram efeito devastador na História. Também elas são primeiros dias de ano. O Ano Novo da História de Roma, ou da Idade Média, ou da Era Moderna. (…) São como montanhas que a humanidade ultrapassou de sopetão para entrar num novo mundo e numa nova vida.

Com isto, a data converte-se num fardo, um parapeito que impede que se veja que a História continua a desenvolver-se de acordo com uma mesma linha fundamental, sem interrupções bruscas, como quando o filme se rompe no cinema e se abre um intervalo de luz ofuscante. Por isso odeio o ano novo.

Quero que cada manhã seja um ano novo para mim. A cada dia quero ajustar as contas comigo e renovar-me. Nenhum dia previamente estabelecido para o descanso. As pausas escolho-as só, quando me sinto embriagado de vida intensa e desejo mergulhar na animalidade para extrair um novo vigor. Nenhum disfarce espiritual. Cada hora da minha vida gostaria que fosse nova, ainda que vinculada às horas já passadas.


Nenhum dia de júbilo coletivo obrigatório a ser compartilhado com estranhos que não me interessam. Só porque festejaram os avós dos nossos avós, etc., teremos também nós de sentir a necessidade de festejar? Tudo isso dá náuseas.

Espero o socialismo também por esta razão. Porque mandará para o lixo todas estas datas que já não têm nenhuma ressonância no nosso espírito. E se o socialismo vier a criar novas datas, ao menos serão as nossas e não aquelas que temos de aceitar sem benefício de inventário dos nossos ignorantes antepassados.

Antonio Gramsci
Turim, 1 de janeiro de 1916.

A formação de professores em Portugal


Mergulhando neste trabalho da professora Raquel Pereira Henrique (FCSH-UNL), em parceria com Joaquim Pintassilgo e Maria João Mogarro. Ou melhor, mergulhando na História da Educação e na Formação de Professores portuguesas para comparar e compreender melhor tantos fossos e tantas lentidões. Sobre a segunda metade do século XIX:

"A comparação com os dados estatísticos dos países europeus e do continente norte-americano levou os autores nacionais a falar de um duplo atraso: em primeiro lugar, o fosso que existia entre Portugal e os outros países no que respeitava a investimentos na educação, nomeadamente a situação da rede escolar, os níveis de alfabetização e de escolarização ou a relação de alunos por professor; por outro lado, a insatisfação que esses países sentiam com a sua própria situação, implementando progressos que levavam a indicadores mais satisfatórios em pouco tempo, enquanto Portugal progredia muito lentamente e via aumentar o fosso relativamente a esses países de referência."

De lá pra cá, muito mudou? Pra quem? Europa e Portugal, Portugal e as ex-colônias: o problema é histórico, eurocêntrico, metropolitano e colonial. Sigamos a leitura!