Percebi, ao longo de mais de dez anos de docência, ser um tanto comum os alunos, os pais e a escola ficarem impressionados com os resultados dos alunos do Fundamental II na disciplina de História. Menos comum do que quando eu era aluno. Nós, professores, durante a nossa primeira formação, a Graduação, estudamos, em disciplinas específicas, as possíveis causas desses baixos resultados nas mais diferentes realidades – tanto na rede pública como na rede privada. Nada nos é tão desafiante como entendê-los dentro e fora de sala de aula. Entretanto, ao invés de ficarmos impressionados e ponto final, buscamos, professores comprometidos com o Ensino da História, as melhores alternativas para facilitar a compreensão dos alunos.
Não é uma tarefa fácil. Muito menos em um mundo digital onde o
passado perde cada vez mais o sentido frente ao presente em constante
transformação e às impressões introdutórias e coletivas apreendidas durante o Fundamental I – tão preservadas nos anos seguintes por diversos
motivos. Além disso, centenas de informações destacadas fora da
sala de aula, pelos mais diferentes meios, parecem muito mais
importantes e interessantes do que as históricas: em outras palavras, tudo ligado à escola, ao material
didático e ao caderno parece ser menos, ser inferior e ser
desnecessário.
Decorar datas e nomes de personalidades, por exemplo, não adianta mais e conceitos
não podem ser decorados, só compreendidos. E se não priorizarmos a
compreensão dos conceitos, não conseguimos sair do lugar. Isso
porque os conceitos estão, na maioria das vezes, ligados às
características dos períodos históricos e, sem entendê-las,
obviamente, eles não adquirem significados. Não significando nada,
elas parecem, consequentemente, não servir para nada. Por
isso, os alunos, com frequência, erguem o mesmo questionamento: para
quê aprender isso? E, na tentativa de responder a questão, sugiro
alguns passos capazes de se fazer entender alguns dos diversos porquês...
I. A importância do hábito da leitura e da pesquisa
Sem aprimorar a leitura, os alunos não conseguem criar uma
familiaridade com a leitura de uma diversidade de fontes históricas.
É preciso ler textos, imagens, músicas e poemas, por exemplo, para
entender (não só) a História. Sem essa leitura diversificada, a partir do
livro e das explicações em sala de aula, é impossível acompanhar
o sentido dos temas abordados e discutidos nos encontros semanais. É preciso ler
um material do período Antigo e do período Contemporâneo, do
Medieval e do Moderno. Assim como é preciso significar as
transformações do final da “Pré-História” e
aproximá-las aos demais períodos, por exemplo, buscando suas diferenças e
semelhanças; identificando o que muda e o que permanece, na tentativa de
estabelecer comparações com o tempo presente. Ou seja, não é
suficiente qualquer leitura. É preciso uma leitura atenta e comunicativa - tanto com o passado como com o presente.
A pesquisa, por sua vez, tem o poder de enriquecer o entendimento e
complementar as informações “básicas”. Sem ela,
inevitavelmente, alcançamos a estagnação do conjunto de
informações e da própria compreensão e o engessamento dos
conteúdos. Engessados, eles não conseguem estabelecer nenhuma
relação com os outros e não conseguem estabelecer sentidos. O mais
engraçado, e trágico, é que vivemos em uma realidade digitalizada
onde as pessoas podem articular milhares de informações em alguns
cliques. Só que o uso da tecnologia, como bem sabemos, para fins
educativos, ainda é algo bem romântico e ilusório. Em tempos de
redes sociais, o uso dos recursos virtuais para a complementação
das discussões em sala de aula é insuficiente e visto como
“careta”. Afinal, na cabeça de muitos alunos, usar um computador
para isso é, querendo ou não querendo, ignorar e/ou perder a tão exaltada juventude!
II. Prestar atenção nas explicações e participar das atividades
Se o aluno já apresenta uma certa resistência à leitura e à
pesquisa, provavelmente tenderá a não prestar atenção nas
explicações. O exercício de significar e dar sentido aos diversos
temas soa, então, para esse perfil de aluno, como articulações aleatórias e
arbitrárias. Parece que o professor, em suas explanações, quer
estimular a participação de todos estabelecendo relações, de
imediato e aparentemente, interessantes, mas sem sentido(s). Isso
porque, na maioria das vezes, a leitura e a pesquisa foram ignoradas
como importantes etapas do estudo da História. O professor fica,
desse modo, com o desafio de compilar a leitura, a pesquisa, a
explicação e o estímulo à participação em seus poucos minutos de
aula – também usados paras as burocracias diárias.
Logo, não tem como haver uma participação ativa dos alunos que não
conseguem conectar a leitura e a pesquisa a qualquer tipo de
atividade proposta. Esses, provavelmente, tendem a estabelecer
conexões imprecisas por desprezarem a leitura e a pesquisa. É
exatamente no momento da atividade que a falta de bagagem intelectual
para realizá-la pode se transformar em frustração e,
inevitavelmente, em um episódio de “fracasso escolar”: fazer
“qualquer coisa” não adianta. Em outras palavras, na hora da
atividade, caso não se tenha a bagagem intelectual, o
constrangimento pode ainda se transformar em obstáculo para a
aprendizagem.
III. Pensar os contextos históricos e posicionar-se
Como dito em linhas anteriores, não adianta decorar datas, nomes e
características dos períodos históricos. É preciso compreendê-los
com o objetivo de avaliá-los e compará-los ao tempo presente.
Apenas dessa maneira conseguiremos perceber as mudanças e as
permanências ao longo do tempo e conseguir conectar o passado e o
hoje. Só dessa maneira conseguiremos identificar o que fez parte dos
outros – e se encontra em nós; presente - e o que faz parte só de
nós. Já o futuro, infelizmente, fica na dependência de nossa
compreensão – dos mais velhos e dos mais novos - e das tomadas de
posição – de todos. É isso mesmo! Compreender a História
depende de todos nós; e, por isso, deve ser um exercício coletivo,
prazeroso e significativo...
De acordo com os documentos oficiais da área da Educação – do Ministério da Educação aos regimentos escolares -, o aluno precisa compreender os conteúdos e posicionar-se; fortalecer-se como sujeito da História e protagonista de sua sociedade (ser cidadão, se preferir). Os interesses teóricos, por sua vez, são admiráveis e, até, idolatráveis. Mas como alcançar esses objetivos sem a leitura, a pesquisa, a compreensão das explicações e a participação? Como alcançá-los tendo que “competir” com a valorização de tudo o que não é escolar e “científico”? Como alcançá-los com poucas e curtas aulas semanais e convivendo com tamanha burocracia? Como alcançá-los sem a total parceria da escola, dos pais e das famílias, das grandes mídias e dos recursos tecnológicos? Como chegar ao posicionamento histórico tendo tantos obstáculos no caminho? Por tudo isso, acho o Ensino da História um desafio um tanto singular. Fundamental e singular.
É preciso frisar, portanto, que a História, por se tratar de uma
disciplina ligada às ações humanas, responsáveis pela composição
do dia de hoje e de amanhã, é uma disciplina - como
todas as outras - voltada à formação do indivíduo; da
nova geração. É preciso frisar que a História se faz pelas
atitudes humanas – em todos lugares e a todo momento. É preciso
frisar que, ao nascermos, a História já se encontra velha, mas não
imutável. Ela é a única disciplina centrada na ação humana e coletiva capaz
de nos ajudar a entender o caos atual existente dentro e fora das
nossas residências e como agir dentro e fora delas. Só nos resta
perceber tudo isso antes que seja tarde – ou pior, que fique tudo mais
complicado!
[Essas linhas foram escritas com o objetivo de
destacar três possíveis causas – ou dicas para o “sucesso escolar” – e inúmeras circunstâncias favoráveis aos baixos resultados na disciplina de História – antes comuns nas disciplina
das Ciências Exatas – e, ao mesmo tempo, de apresentar a
sua importância para a formação dos mais novos, os seus interesses
didáticos – no mundo, no Brasil e na sala de aula - e os seus
constantes desafios.]
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