A História (mal?) contada nas salas de aula

Aconteceu mais um Congresso Anual da Associação dos Professores de História de Portugal - faço do seu tema o título desta postagem – na cidade do Porto [Portugal] entre 27 e 29 de outubro. Aproveitei a proximidade com a APH após a ação de formação “Racismo e Cidadania”, a minha associação e o interesse pela programação para conferir o seu conteúdo.

(Mas, antes de compartilhar algumas linhas e questões sobre o evento, é importante frisar que na publicação quadrimestral como nas chamadas para o congresso foi bem descrito o projeto O Atlântico dos Outros – promovido pelo concurso Projetos de Investigação nos Domínios de Línguas e Cultura Portuguesa da Fundação Calouste Gulbenkian como uma derivação do projeto Salvador da Bahia: american, european and african forging of a colonial capital city (Bahia – 16/19) marcado pelo intercâmbio de investigadores da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade Federal da Bahia. Uma citação breve sobre as críticas aos manuais escolares portugueses e os nomes de Marta Araújo e Sílvia Maeso também aparecem no material em circulação prévia ao evento. Conheci os vídeos desenvolvidos pelo projeto na ação de formação “Racismo e Cidadania”, já conhecia os estudos das investigadoras e acompanho, com atenção mas um tanto de longe, a luta antirracista em Portugal e alguns encontros do movimento negro. Impossível não querer conferir o evento para conhecer melhor o campo da História, dos professores de História e do seu diálogo com outros campos.)

Como meu interesse estava centrado no segundo e terceiro dia, não conferi as atividades do primeiro – também por não conhecer a cidade e desejar apreciá-la, investigá-la e observá-la. O segundo dia começou com trechos dos recursos didáticos audiovisuais desenvolvidos pelo projeto O Atlântico dos Outros, suas explicações e justificativas. Na sequência, uma mesa redonda sobre currículo, manuais escolares e práticas pedagógicas [Cristina Maia (FLUP), Mariana Lagarto (E. Secundário) e Raquel Pereira Henriques (FCSH)] antes da apresentação do trabalho jornalístico e sociológico Racismo em português da Joana Gorjão Henriques. E, para encerrar o dia, outra mesa redonda bem diversificada sobre as representações do cigano da literatura juvenil portuguesa [Maria da Conceição – Viseu], a figura do herói nas narrativas construídas pelos alunos [Isabel Barca (U. Minho) e Olga Magalhães (U. Évora)]; a invisibilidade dos homens comuns nas narrativas da expansão portuguesa [Amélia Polónia (FLUP)] e os arquivos disponibilizados pelo projeto Ensina da RTP. Resumirei as exposições com algumas reflexões:


1. Os frutos audiovisuais do projeto O Atlânticos dos Outros são válidos, definitivamente. Os critérios usados para a sua produção são legítimos. Entretanto, como compartilhado com um dos participantes por e-mail após a ação de formação Racismo e Cidadania e antes das finalizações, o material é ilustrativo. Ilustra-se o conteúdo dos manuais escolares portugueses. Não apresenta reflexões sobre as consequências da escravidão e sua relação com o tempo presente. Não enfraquece a tríade África-escravidão-negro. Não constata que, mesmo com o passar dos séculos, as posições sociais de brancos e negros em Portugal, por exemplo, são semelhantes. Não destaca o uso abusivo português das ex-colônias e do trabalho excessivo. Não humaniza e sensibiliza, apenas ilustra. A ausência de intelectuais negros reforça tal ilustração acadêmica e branca. Representatividade e visibilidade ainda são, aparentemente, tópicos de difícil aceitação e compreensão. Não existe nenhuma ponte com a luta antirracista crescente e a atuação dos movimentos sociais. É como se o material surgisse como uma referência para abordar a temática e responder as críticas aos manuais escolares, mas com significantes limitações.


2. A discussão sobre manuais-programas-práticas mostra-se bastante familiar ao universo docente: currículo para desdobrar, extensão e quantidade de conteúdos, tempo para abordagens, avaliações e burocracias, cobrança da família. Dois pontos chamaram a atenção: a importância do mercado editorial e a criatividade como recurso da salvação educacional. Acabar com o livro impresso e dialogar com as novas tecnologias? Desenvolver plataformas digitais? Ampliar e aprofundar ou reduzir e sintetizar? Como selecionar? O problema do ensino da História não é o livro. Está nele como nas explanações em sala e nas atividades realizadas. Mais além: nas produções acadêmicas, na formação de professores, nos discursos institucionais, na propaganda turística e nas relações interpessoais. Criatividade docente é fundamental, mas não é inata. É preciso ensinar e aprender a ser criativo em sala de aula. É preciso saber quais os caminhos existem para cada temática. É preciso começar pelo livro e não tê-lo como fim. É preciso conhecer o que não está escrito.


3. Ficou nítido que Joana Gorjão Henriques estava a representar o outro lado da História com o seu Racismo em português. Sua apresentação foi tão clara e direta como a escassez de intervenções e o silêncio. Pesquisar mais de cem pessoas e conversar sobre o racismo sofrido é algo quase inquestionável. Ao observar a posição firme e fundamentada de uma jornalista com formação sociológica, fiquei a pensar na importância social dos profissionais de outras áreas para questionar a escrita da História em Portugal. É como se fora da História as pessoas estivessem mais atentas do que dentro dela. Será conveniente? Para quem? Para o financiamento de investigações, para a comercialização de publicações, para atender aos interesses estatais e mercantis e para fortalecer um passado heroico contrário à realidade? Para manter a ordem social? Uma só presença, mas presente.



4. Não consegui conferir a explanação sobre a representação dos ciganos na literatura, mas ficou nítido um silêncio semelhante ao da explanação de Joana Gorjão Henriques. É como se desse o espaço de fala para ficar claro que se deu o lugar de fala. Trata-se de um projeto desenvolvido por uma professora-bibliotecária bastante lúcido e de combate à ciganofobia. Conheço poucos escritos da Isabel Barca e tenho uma certa admiração pela metodologia dos seus estudos. Entretanto, antes de conhecê-la na mesa, ela estava ao meu lado e fez uma intervenção para lá de assustadora: “O Cristianismo combateu a escravidão”. Sua apresentação, em parceria com a Olga Magalhães, foi sobre produções de textos realizadas por alunos do 9º Ano sobre os heróis da História de Portugal. O filtro é fundamental e interessante para sabermos o que fica antes do Ensino Secundário. Contudo, na explanação, a liberdade dada aos alunos para valorar os heróis é intrigante. A diversidade de impressões parece ser interessante mesmo que reforce a apologia de um ditador como Salazar, por exemplo. Será mesmo que a diversidade enriquece? Ou será que complica a compreensão histórica? Deixar o aluno julgar os heróis sem mediação crítica é válido? Quando questionada sobre o protagonismo da formação dessas impressões sobre os heróis – “a História é contada como aprendida?” -, a professora recorre às diferentes vozes existentes (a família, a escola, a igreja, a mídia) e diminui o protagonismo dos professores e da escola, convenientemente. Já a professora Amélia Polónia, que se dedica a falar sobre os homens comuns, ressalta demais a cooperação e a negociação - e não dominação e exploração - existente entre esses e os não-comuns, seus superiores. Usando um vocabulário que se oscila entre “expansão ultramarina portuguesa” e “presença portuguesa no mundo” – de acordo com a mesma, “mais soft” -, ela elenca um slide com cinco contributos e nada desfavorável. Aproveita para salientar a necessidade de uma análise em rede para investigar melhor esses homens comuns. Quem faria parte dessa rede de análise? Professores académicos que exaltam um passado histórico, grandes homens e feitos heroicos? No mínimo, uma relação incoerente e questionável. Por fim, encerra-se o último momento com a apresentação do projeto Ensina da RTP com um arquivo considerável de temas históricos, pensados e/ou sugeridos. Vale a pena conferir!

Do Maneirismo à Arte Nova: percurso pelos marcos da arquitetura da Misericórdia do Porto

A visita de estudo, por não conhecer a cidade e sua história, foi aprofundada e interessante. Começou dentro da instituição e sobre a sua construção. A estrutura era bem mais simples no período de sua formação (1499) e atendia à população: assistência aos cárceres e sepultamento dos enforcados; apresentações teatrais e lutarias (para a fundação do Hospital Santo António). Além do tradicional assistencialismo aos mais pobres. Os dois reis destacados pela Misericórdia são: D. Manuel I, responsável pela urbanização dos arredores, e D. Pedro IV (D. Pedro I para os brasileiros), um dos seus provedores. Em uma das salas contém duas obras conectadas: Fons vitae, a obra flamenca que traduz a ligação da cidade com o norte da Europa atribuída a Colijn de Coter, e a escultura O meu sangue é o vosso sangue, de Rui Chafes – que começa no interior da sala e acaba na parte externa da Misericórdia, na rua das flores. Segue-se a sala dos despachos e uma galeria com os retratos pintados dos benfeitores, homens e mulheres – onde os de corpo inteiro representavam, de costume, os mais ilustres. Algumas salas foram ignoradas antes de seguirmos para a capela e de conhecer a importância artística do italiano Nicolau Nasoni, tanto para a cidade como para a fachada da igreja.


É importante não esquecer que essa bondade cristã e solidariedade elitista serviram como excelente alternativa para um período de crise econômica, tanto no campo como na cidade. Alternativa essa capaz de evitar revoltas populares e gerar prestígio entre os mais privilegiados e ricos.


Além da visita interna, percorreu-se a rua das flores antes de seguirmos para a Torre dos Clérigos, a antiga cadeia, o Jardim da Cordoaria, a Academia Politécnica – hoje, Universidade do Porto -, o Hospital Santo António – um dos maiores projetos fora de Londres realizado por um inglês -, o Convento do Carmo – hoje, Guarda Nacional –, a Igreja das Carmelitas e a rua da Galeria de Paris, com algumas fachadas de Arte Nova.




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Enfim, o evento permitiu perceber melhor a relação entre os campos e constatar algumas de suas particularidades e regras. Fica o parabéns para Marta Porto, responsável pelas formações da APH com uma atenção singular e desafiadora. Se a História está sendo mal contada nas aulas de aula? Soa conveniente. Sabe-se que sim, mas o trabalho é muito duro e todos parecem um tanto cansados, desmotivados, indispostos. Recontá-la mexe com toda a identidade nacional e, inevitavelmente, com as individuais. Eram poucos participantes: uns jovens-académicos e muitos professores mais velhos; majoritariamente, mulheres. O problema da mobilização, de fato, atinge não só esses eventos educacionais como os de outros movimentos sociais. Reunir para debater é um problema que precisa ser solucionado com urgência porque sem o coletivo não há saída. Muito prazer em conhecê-los: Alexandre, André, Elza e Mara (FLUP). Obrigado pela companhia. Sigamos!

Projeto Recanto

Depois de iniciar a carreira docente como arte-educador na periferia de Recife com alunos da escola pública e experimentar o mesmo na periferia de São Paulo com alunos da escola particular, retomo, em parceria com o Canto da Sereia [Loja Esotérica] e a Casa de Oxum [Centro de Umbanda](Agualva- Cacém), as atividades na periferia de Lisboa com o Projeto Recanto a fim cantar passado, presente e futuro. Mais informações, à disposição!


Ação de formação "Racismo e Cidadania"


Na íntegra, minha primeira participação em uma ação de formação promovida pela Associação de Professores de História de Portugal. Participação em forma de trabalho final. Uau!

INTRODUÇÃO
Essa é a minha primeira participação em uma ação de formação promovida pela Associação de Professores de História. Sou brasileiro, licenciado em História e mestre em Sociologia da Educação. Tenho 33 anos, 14 anos de docência e um pouco mais de 2 anos como imigrante em Portugal. Adquiri conhecimento sobre a ação de formação pelos professores António Camões Gouveia e Raquel Pereira Henriques. Cultivo um apreço significante pela temática ao longo da minha trajetória académica e profissional e gostei bastante das distintas explanações. Relatarei um pouco sobre as minhas impressões acerca dos dois dias de encontro e trocas e a visita realizada, posteriormente, com duas colegas – académicas, ativistas e negras – na exposição homônima à ação de formação, Racismo e Cidadania, organizada pelo Padrão dos Descobrimentos.
No primeiro momento, debruçar-me-ei sobre os dois dias de formação: a articulação entre os manuais escolares e o conteúdo da exposição elaborada pela professora Raquel Pereira Henriques; o olhar atento do professor Jorge Alberto sobre as referências contidas nos manuais escolares e alguns dados correspondentes a presença de temáticas específicas; as abordagens do professor António Camões Gouveia fundamentadas no vínculo educação, museu e museu como educação; a apresentação dos vídeos educativos idealizados e planeados por Hugo Ribeiro da Silva; e os esclarecimentos do António Viana ligados à estrutura e aos significantes da exposição.
Como não leciono ainda em terras portuguesas e senti falta da presença negra na ação de formação, convidei duas colegas para apreciá-la com o objetivo de coletar considerações acerca da exposição e tornar a visita um exercício. Compartilho, no segundo momento, sob breve e leve inspiração etnográfica, o nosso encontro com as obras selecionadas no interior de um monumento muito importante e ímpar – tanto para a História de Portugal como para a História das Colonizações. Importância, contudo, bem paradoxal.
Não seria um exagero acentuar que a exposição faz parte da programação da Capital Ibero-Americana da Cultura, destaca Lisboa e todo um ideário de centro cosmopolita e multicultural. Assim como não podemos ignorar o contexto local da exposição: um monumento central e imponente nos trilhos turísticos da capital do antigo império ultramarino. Não é difícil reconhecer o poder simbólico do que está em evidência.
A temática é precisa e urgente e o público vitimado está ainda distante. Tanto da organização da exposição como do acesso e da divulgação. Por isso, mediei o diálogo sobre dias de formação, a exposição e os olhares negros na tentativa de sondar o grau de distância entre as devidas partes. Distâncias essas que, em se tratando de educação – e educação histórica –, deveria ser combatida para ser bem apr(e)endida.
Reforço que esse exercício foi muito mais do que uma visitação de imigrante e filhas de imigrantes com “síndrome de colonizado”. Não, absolutamente. Esse exercício foi fundamental para constatarmos que há muito o que fazer para tornar o assunto mais presente nas escolas e nos manuais; mais fiel e próximo à realidade. Mais civilizatório e mais humano. Menos politicamente correto. Menos datado, engessado, folclórico e previsível. Nada natural.

DOS DIAS DE FORMAÇÃO
A leitura da nota de abertura de um livro (CALDEIRA, 2017) foi uma ótima escolha para iniciar os dois dias de formação. Dois pontos chamaram mais a minha atenção: uma citação do Sentido do Humanismo onde lê-se “Nenhum povo da Terra foi mais dono de homens do que nós fomos” e a convicção do autor “de que, através dos percursos individuais, podemos conhecer com maior rigor as experiências colectivas”. Foi após a leitura que percebi que estava em um auditório composto por profissionais da Educação e da História, brancos e portugueses, dispostos a discutir Racismo e Cidadania. Coube a mim, escutar e observar com bastante atenção e cuidado para não me perder.

O material elaborado e oferecido pela professora Raquel Pereira Henrique, na sequência, disponibilizou ao participante uma articulação, direta e indireta, entre os programas e as metas curriculares, os manuais e scolares e os seis núcleos da exposição. Nada melhor para indicar com precisão alguns caminhos possíveis de abordagens e discussões com os alunos. Ou seja, nada melhor para atender às exigências ideais e  nacionais do Ensino da História. Serviço pronto para evitar a fadiga docente. E, no meio da leitura técnica, surge a constatação de que os ciganos estão fora dos manuais – como, coincidente e consequentemente, da exposição.

Os dados apresentados pelo professor Jorge Alberto ilustram bem os principais pontos presentes nos documentos curriculares e, inevitavelmente, nos manuais escolares. Destaca-se o escravo e a escravatura (24,6%) e ganha corpo uma reflexão coletiva sobre a dificuldade de dissociar a tríade escravo-africano-negro. Como discutir o racismo se essa tríade parece tão indestrutível? Se parece tão, historicamente, natural? Seguimos ao almoço com essas questões para tentar digerir.

A explanação do professor António Camões Gouveia, relacionada à ideia do museu como espaço educacional por si só, lembrou-me bastante o estudo francês sobre os museus europeus e seus públicos (BORDIEU, 2003a). Enquanto o museu se prepara para apresentar algo é preciso que o público se prepare para receber: o museu prepara-se com seus formatos sacralizados, enquanto o público prepara a bagagem que tem para ler. É nesta troca que está e há a educação. Concordo. Mas esta educação não seria mais rica e transformadora se o museu dessacralizasse um pouco seus formatos e priorizasse mais o acolhimento de diferentes bagagens? Quais são os interesses e os poderes atuantes sobre os museus? Seria a escola semelhante ao museu: mais um aparelho de reprodução (BOURDIEU, 2008) do que de transformação social? Que Educação é essa que mais reproduz do que transforma? Cultivadas as questões e inquietações, preparamo-nos para apreciar em primeira mão os vídeos educativos idealizados e compartilhados pelo Hugo Ribeiro da Silva.

Ao saber que os vídeos tinham como destino os olhares de alunos do Ensino Secundário e professores, várias questões vieram a mente, mesmo desconhecendo a realidade escolar portuguesa, e algumas seguiram para o apresentador por meio de e-mail – na tentativa de parabenizar pela coragem de apresentar algo inacabado e de contribuir com sugestões para uma finalização qualitativa. Listo aqui apenas três pontos sobre os vídeos dentre alguns: I) a ideia de África “atrasada, primitiva e selvagem” antes da chegada dos europeus é reforçada pelas imagens e bem distante dos estudos de africanistas; II) o uso do termo sobrenatural para contemplar os fundamentos religiosos do politeísmo africano, como se fosse algo incompreensível e inexplicável, faz com que eles sejam considerados muito diferente dos demais (da Antiguidade Oriental e Clássica); e, III) a onipresença de académicos brancos (com exceção da professora baiana) e a ausência de vozes dos movimentos sociais – além da falta de representatividade negra entre os apresentadores do os argumentos históricos e culturais e silenciam e/ou simplificam os problemas último vídeo – inibem uma identificação e um coerente esclarecimento, limitam do racismo cotidiano.

Fiquei impressionado. De facto, há um muro dentro das universidades que torna inacessível o mergulho investigativo em algumas temáticas como se elas fossem proibidas, tensas e veladas. Entendo algumas circunstâncias, mas lamento a manutenção deste muro. Muito se perde. Tenho acompanhado, ainda superficialmente, a abordagem do tema em diversos meios e percebo que há uma real dificuldade e resistência para (re)pensar a História de Portugal. É como se, para isso, fosse preciso desprezar uma trajetória gloriosa – que não é e não está visível aos olhos das novas gerações. Conta-se uma história passada e violenta-se, moralmente, culturas e humanos no presente. O que fazer? Depois de um sábado bastante atípico e produtivo, várias questões frutíferas me acompanha(ra)m.

Na manhã do segundo dia, sob a companhia de António Viana, tivemos o privilégio de conferir os bastidores de uma exposição. Foi bastante interessante ver o espaço inacabado e escutar uma série de detalhes que permeiam a sua organização. Das paredes às cores, das luzes à proteção das obras, dos textos e das legendas ao olhar do visitante. Tudo muito bem planeado para apresentar ao público mais do que um tema polêmico através de um acervo, criteriosamente, selecionado, mas reforçar e rememorar (um)a História de Portugal.

DA VISITA À EXPOSIÇÃO
A visita deu-se ao final da tarde de uma segunda-feira, 15 de maio deste ano, e o encontro foi ao lado do Padrão dos Descobrimentos. Cheguei um pouco antes das minhas convidadas e foi interessante observar o contraste da sua chegada: duas negras, mestrandas, em meio à circulação de turistas brancos. Expliquei por alguns minutos o que havia sido apresentado nos dias de formação e qual era o objetivo da nossa visita: avaliar o poder educativo da exposição. Antes de entrar, dei-lhes os ingressos, e percebi um “embrulho no estômago” ao apreciar dois poemas do Fernando Pessoa a exaltar Portugal e toda a sua grandiosidade (ultra)passada.
A visita não demorou muito tempo. As colegas usufruíram os textos e as legendas para fazer as suas leituras das obras e caminharam sem muita hesitação como sem muita surpresa. A primeira parada nítida foi frente ao quadro Infante D. Afonso e um pajem negro (1653), de José Avelar Rebelo - ao lado de instrumentos de repressão. O destaque dado à obra pela organização do espaço e pelo jogo de luzes fez parecer que estava se destacando algo de bonito, de exótico, de banal. A aproximação entre a “brincadeira” do quadro e a violência dos instrumentos não foi muito bem vista por elas, acredito. Quase sem sentido como uma anedota sem graça. A segunda nítida parada foi frente às rosto do Theatrum, de Ortelius, dos postais imagens clássicas dos tumbeiros, da representação dos continentes na página de africanos e das piadas racistas contidas na publicidade. A previsibilidade das imagens gerou um silêncio previsível. Era como se elas buscassem a cidadania na exposição e só enxergassem o racismo.
Algumas palavras aceleraram os passos das visitantes, como o mundo colonial português. Essa como outras – expansão, império, pioneirismo, diversidade cultural, multiculturalismo -, como bem sabemos, são termos muitas vezes com poder de conceitos científicos. São palavras que podem ter significados diferentes de acordo com seus leitores. Essa questão vocabular entra na pauta das reflexões sobre o Ensino da História visto que ela, querendo camufladas e urgentes, válidas para humanizar a compreensão em relação aos ou não querendo, transmite uma versão clássica e hegemônica e omite outras, tão dominados e vencidos por séculos; às particularidades da dominação e às circunstâncias das vitórias.
A terceira e última parada foi na reta final da exposição – ao passar pela erotização das nativas e pelos registos dos zoos humanos. Já era familiar o trabalho de dois artistas, os angolanos Kiluanji Kia Henda e Nástio Mosquito. Entretanto, de acordo com o texto, parecia que o fazer outras palavras, fez-se entender que a produção artística dos negros adquiria artístico possuía algum tipo dependência com o Ocidente e com Portugal. Em legitimidade naquele espaço e servia como exemplo do aprendizado adquirido por enquadrarem-se nos moldes europeus. O estopim acelerador do fim da visita foram eles ao se deixarem relacionar com a cultura capitalista e colonizadora; ao os excertos legislativos que, querendo ou não querendo, davam a entender que os problemas vinculados ao racismo estavam resolvidos; que toda a tragédia histórica acabou e que se vivia em um país absolvido e bem resolvido. Ilusão.Acabada a visita, seguimos para um bate-papo no Jardim do Império.
Ao serem questionadas sobre o poder educativo da exposição, as duas concordaram que o que foi visto não difere muito da mentalidade portuguesa comum e pulsante fora do Padrão dos Descobrimentos. O conteúdo reunido na exposição, mesmo com seus frágeis textos e legendas, em quase nada difere do discurso presente nos manuais escolares e dos professores – maioritariamente, brancos. Apreciaram, enfim, mais do mesmo – sem desmerecer, claro, a qualidade das obras, a sofisticação do ambiente, o(s) contexto(s) da exposição e o local escolhido.
Lamentaram, em silêncio, por perceber que mais uma vez falou-se em racismo sem dar voz aos não-brancos, não-cristãos e não-europeus. Mais uma vez, prevaleceu a História eurocêntrica: bem-sucedida e civilizatória, naturalizada e secularizada. Tocou-se em um assunto delicado com muita delicadeza e sem muita propriedade. Parece até, conclusão delas, que para se conseguir a cidadania tem de se passar pelo racismo. É como se o racismo fosse o obstáculo a ser superado para se alcançar a cidadania. Mas como ultrapassá-lo sendo cigano, negro, muçulmano, filhos negros de imigrantes nascidos em território português?
Ao pensar em como essa exposição seria lida pelos alunos (não-brancos e não-portugueses) da educação pública, as duas colegas não tardaram muito em imaginar a ideia de reforçar o embranquecimento cultural. Algo mais torturante do que ter de se desvincular e negar sua cultura, sua identidade, a fim de ser respeitado e tratado como cidadão? Que peso tem isso para crianças e jovens em formação? O que pensar desse Ensino da História que não prepara a geração mais nova para o mundo real e para o tempo presente?
Esses questionamentos finalizaram nosso encontro já no início da noite. Tornou-se preciso nos despedir e nos organizar para mais um dia de trabalho e estudos depois de constatar que ainda há muito o que fazer para essas discussões e essas temáticas ganharem mais espaços e mais vozes em Portugal. Mais representatividade e mais visibilidade. Outras abordagens. Outras, dissociadas de orgulho, romantismo e nacionalismo. Menos violentas e mais humanas. Mais críticas e menos ingênuas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Limitar-me-ei, nestas linhas últimas, a ressaltar a importância desta ação de formação apesar das minhas críticas e impressões e dos olhares aguçados das colegas na visita guiada. Indiscutivelmente, este tema não pode deixar de fazer parte das pautas e das problemáticas do Ensino da História – seja em Portugal ou em outro lugar do mundo. Mesmo sem a presença e a voz negras, é preciso tocar neste assunto. É preciso (re)construir a nossa consciência histórica a todo o momento com o objetivo de lapidá-la – de engrandecê-la e enriquecê-la.
Pode ser que tanto as críticas e as impressões como os olhares aguçados pareçam, surperficialmente, sintomas de uma parcialidade indesejada e imprópria. Mas não. As considerações presentes no primeiro e no segundo momento têm como alicerce, a meu ver, a formação universitária. Não está em questão aqui ser português, branco, brasileiro, africano, imigrante e negro. Usar tais adjetivos para fortalecer uma falsa ideia de parcialidade iria de encontro com a principal proposta da ação de formação, acredito. Iria de encontro com primeiro passo proposto e dado na ação de formação: a leitura da nota de abertura. Vale a pena destacar:

(…) através dos percursos individuais,
podemos conhecer com maior rigor as experiências colectivas.”

Talvez esses adjetivos somados a uma formação universitária – tão importante como indiferente para alcançar a criticidade – sejam os responsáveis por esse posicionamento não-“revoltado sem causa” e não-“panfletário”. Talvez, ou não. O que importa é agregar e humanizar: é disto que a História precisa para libertar as Histórias. É isso que o Ensino da História precisa para gerar sentidos aos alunos, pois sem sentido o ensino não existe.
Sugiro a continuidade dessa ação de formação – em outro formato; com outro repertório e outros sujeitos. Acho que seria, igualmente e/ou mais, interessante e rico para os professores participantes. O desconforto pode ser educativo; pode formar com tanto primor como o conforto. Caso haja interesse, estou à disposição para pensar outra possível ação de formação. Sou grato pela participação, satisfeito com a ação e bem acolhido pela associação. Obrigado.

BIBLIOGRAFIA
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A formação de professores em Portugal


Mergulhando neste trabalho da professora Raquel Pereira Henrique (FCSH-UNL), em parceria com Joaquim Pintassilgo e Maria João Mogarro. Ou melhor, mergulhando na História da Educação e na Formação de Professores portuguesas para comparar e compreender melhor tantos fossos e tantas lentidões. Sobre a segunda metade do século XIX:

"A comparação com os dados estatísticos dos países europeus e do continente norte-americano levou os autores nacionais a falar de um duplo atraso: em primeiro lugar, o fosso que existia entre Portugal e os outros países no que respeitava a investimentos na educação, nomeadamente a situação da rede escolar, os níveis de alfabetização e de escolarização ou a relação de alunos por professor; por outro lado, a insatisfação que esses países sentiam com a sua própria situação, implementando progressos que levavam a indicadores mais satisfatórios em pouco tempo, enquanto Portugal progredia muito lentamente e via aumentar o fosso relativamente a esses países de referência."

De lá pra cá, muito mudou? Pra quem? Europa e Portugal, Portugal e as ex-colônias: o problema é histórico, eurocêntrico, metropolitano e colonial. Sigamos a leitura!

Cem anos da Revolução de Outubro


Mais uma presença em evento acadêmico na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Agora para conferir a agenda de comemorações organizada para o centenário da Revolução Russa de 1917 e breves comentários de intelectuais acerca do fato histórico. O primeiro a abordar o assunto foi o historiador Fernando Rosas (IHC) [do Bloco de Esquerda] que destacou a revolução como sendo, não um surto de vândalos, mas sim fruto de processos transformadores cultivados há muito tempo e com inúmeros fundamentos e a semente difusora de revoltas populares e, até mesmo, de governos fascistas; assim como destacou a experiência concreta baseada na terra pela paz. Nada de Fátima; nada de Salazar. A antropóloga Paula Godinho (IHC) sugere que a revolução seja considerada também como uma forma de frear o capitalismo bélico do começo do século passado e a ruptura como fonte de novas inteligibilidades. Frisa a demonização e a patologização dos atos e das posturas revolucionárias e teme uma patrimonialização do passado - sem memória. Lembra que vivemos em tempos de muita identidade e pouca comunidade e alerta para a festalização da revolução. Por fim, provoca: será preciso livros de auto-ajuda para (re)pensar a revolução? Teresa Cravo (CES), especialista em Relações Internacionais, por sua vez, fala sobre a internacionalização da revolução como arma para combater o estabelecimento das tão recentes fronteiras e estimula uma reflexão sobre esperança, movimento, horizonte e direção. Para finalizar, o historiador José Pacheco Pereira (IHC) [que comunga com o PSD] estaciona as questões ao discorrer sobre a dificuldade de legitimar uma versão oficial sobre a revolução - como se fosse fácil legimitar qualquer versão sobre qualquer fato histórico.


IHC - Instituto de História Contemporânea (FCSH-UNL)
CES - Centro de Estudos Sociais (Universidade de Coimbra)
PSD - Partido Social Democrata

Educação para o ambiente?


Educação para o ambiente deve começar em casa; em família. E temas como violência, toxicodependência e sexo também devem ser falados na escola - assim como em casa; em família. Assim como não devemos esquecer de abordar, seja na escola ou em casa, dois importantes temas: Racismo e Xenofobia. Só para que não seja estimulada aquela relação errônea e superficial entre violência, droga e sexo & pretos e imigrantes. Quem vai falar? O que se vai falar? Como se vai falar A Educação para o ambiente precisa ser clara, franca e humana acima de tudo!

Inteligência x Intelectualidade


Osho, filósofo e místico indiano, deixou vários escritos e nos ajuda bem, neste livreto, a refletir sobre as diferenças entre inteligência, intelectualidade e estupidez. Um ótima sugestão para humanos de várias áreas e idades e fundamental para acadêmicos não confundirem ego e títulos com lucidez e sabedoria. Fica a dica! 

"É muito raro que alguém se consiga formar na universidade e ainda continue inteligente. Muitas poucas pessoas têm sido capazes de escapar à universidade, de a evitar, de passar  por ela e no entanto salvarem a sua inteligência - muito raramente. É um grande mecanismo para o destruir a si."

[1931 - 1950]

Formação Anual do SOS Racismo

Em construção!

Refugiados.

Professor lalala.

Associação de mulheres ciganas.

Ensino de História e manuais escolares.

Recolha de dados étnicos-raciais.


Está na hora de (re)começar!


Depois de um ano de muito estudo, leitura e pesquisa, distante das salas de aula e do meu país, está na hora de (re)começar. Agora, morando em Portugal e legalmente autorizado, sinto-me preparado para oferecer alguns serviços educacionais com o objetivo de acompanhar, complementar, enriquecer e reforçar a formação cultural e intelectual de crianças, jovens e adultos - portugueses, brasileiros e africanos lusófonos. E, para celebrar a ampliação do público e o (re)começo, o blog está de cara nova!

Os serviços são diferentes e estão todos explicados nas abas superiores: acompanhamento pedagógico, homeschooling, explicações de História e Sociologia, formação para pais e professores e guia de roteiros históricos e turísticos para grupos. Os investimentos são acessíveis e alguns serviços podem ser oferecidos à distância com a mesma qualidade. Tudo organizado para satisfazer as necessidades de quem quer aprender mais!

Além disso, esse espaço contém, nas partes laterais, relatos e registros da minha experiência docente, artigos e projetos (publicados e em andamento) e uma série de links interessantes (games históricos, meios de comunicação e passeios virtuais). Sinta-se à vontade para conhecer mais os serviços, o nosso espaço e a minha trajetória profissional! 

Em caso de dúvidas, esclarecimentos e sugestões, estou à disposição!

Escolher, ler e questionar


Participo, pela primeira vez, de um simpósio eletrônico (e internacional). Fiquei sabendo do mesmo no último dia de inscrição. Depois da sua confirmação, li todas as orientações e fiquei surpreso com a dinâmica: ler as conferências e as comunicações e ter os comentários como a presença para certificação. Melhor do que isso é um posicionamento acerca do seu comentário diretamente do conferencista e do comunicador. Muito interessante e válido. Agora, cabe escolher bem (dentro da seleção já feita e apresentada abaixo), fazer as leituras e preparar as trocas. E, assim, aproximo-me, novamente, das discussões acadêmicas visando a lapidação de um futuro projeto de pesquisa de Doutorado sobre (também) Currículo e Ensino de História.

CONFERÊNCIAS


O ENSINO SUPERIOR NA GUINÉ-BISSAU: REFLEXÃO E DESAFIOS
Arnaldo Sucuma - Universidade Lusófona da Guiné Bissau

EM TEMPOS DE BNCC: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 
SOBRE O ENSINO DE ANTIGUIDADE CLÁSSICA NO BRASIL
Claudia Beltrão - UNIRIO

HISTÓRIA DAS MULHERES: 
ENTRE HISTORIOGRAFIA E LIVROS DIDÁTICOS
Dulceli Tonet - UNESPAR

ESTÁ MAIS DIFÍCIL APRENDER/ENSINAR HISTÓRIA HOJE?!
Everton Crema - UNESPAR

VALORES COMO OBJETO DE APRENDIZAGEM HISTÓRICA
Itamar Freitas - UNB

ENSINO DE HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
Jorge Luiz Cunha - UFSM

USANDO BIOGRAFIAS PARA ENSINAR HISTÓRIA INDÍGENA
Kalina Vanderlei Paiva da Silva - UPE

HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA: UM TEMA DA BURNING HISTORY BRASILEIRA
Maria Auxiliadora Schmidt - UFPR

O ENSINO DE HISTÓRIA AFRICANA A PARTIR DE 
“SUNDJATA OU A EPOPEIA MANDINGA”: NOTAS PARA O USO DIDÁTICO
Washington Santos Nascimento - UERJ

COMUNICAÇÕES

DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E SOCIAL 
NA VIDA DOS ALUNOS E ALUNAS
Ana Carolina Prohmann

IDENTIDADE QUILOMBOLA: OLHARES SOBRE 
AS PRÁTICAS NA COMUNIDADE QUILOMBOLA BOM SUCESSO
Ana Lourdes Queiroz da Silva e Josué Viana da Silva

NOVAS PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA 
DOS ESTADOS UNIDOS E DAS RELAÇÕES INTERAMERICANAS
Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior

MÃE ÁFRICA DESFIGURADA: CONSIDERAÇÕES 
ACERCA DA DOCÊNCIA E AS QUESTÕES ÉTNICOS-RACIAIS
Antonio José de Souza e Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios

ONDE ESTÃO AS MULHERES NA HISTÓRIA? 
REFLEXÕES E POSSIBILIDADES EM SALA DE AULA
Ary Albuquerque Cavalcanti Junior

ESTUDO INTERDISCIPLINAR: A CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA 
NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
Carlos Jordan Lapa Alves

O “CAMPO INTELECTUAL” E AS EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS
DE HISTORIADORAS BRASILEIRAS
Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik

O GUIA DO VIAJANTE NO TEMPO E NO ESPAÇO: UMA PROPOSTA 
DE ESCRITA DE NARRATIVA HISTÓRICA EM SALA DE AULA
Carolina Corbellini Rovaris

POR UMA HISTÓRIA CONTADA E SENTIDA, PROJETO CULTURA 5: 
SENTINDO A CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS SENTIDOS
Carolyne do Monte de Paula

A VIOLÊNCIA COMO LINGUAGEM: UM HORIZONTE TEÓRICO 
PARA A HISTORICIZAÇÃO DA CULTURA DA VIOLÊNCIA
César Henrique Guazzelli e Sousa

ESTILOS DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO 
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO DA DISCIPLINA HISTÓRIA
Daniel Rodrigues de Lima

OS CAMINHOS DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Daniele Cristina Frediani

A DISCIPLINA DE HISTÓRIA E OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: 
UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS
Danielle Krislaine Pereira

RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS UM FACILITADOR 
DA APRENDIZAGEM NA RELAÇÃO ENTRE: PROFESSOR E ALUNO
Evelline Soares Correia

HISTÓRIA DO ENSINO DE HISTÓRIA NA ERA VARGAS
Evelyn Rodrigues de Souza

PARA QUE SERVE A HISTÓRIA ORAL?
NOTAS SOBRE A HISTÓRIA ORAL E O ENSINO DE HISTÓRIA
Fagno da Silva Soares e Vera Lucia Silva Oliveira

REPENSANDO A AULA DE HISTÓRIA: PROFESSORES E ALUNOS 
COMO AGENTES ATIVOS DA "HISTÓRIA"
Gabriel José Brandão de Souza

EXERCÍCIO DOCENTE EM FOCO: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA
Giovana Maria Carvalho Martins

O ENSINO DE VALORES NO ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES
Júlia Helane Assis da Silva

O ROCK BRASILEIRO DAS DÉCADAS DE 1970-80 
E O ENSINO DE HISTÓRIA: DISCURSOS E POSSIBILIDADES
Luis Alberto Gottwald Junior

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL:
 O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E O ENSINO DE HISTÓRIA
Marlon Barcelos Ferreira

O QUE VOCÊ SABE SOBRE A HISTÓRIA DAS MULHERES?
CONHECIMENTOS PRÉVIOS DOS ALUNOS SOBRE QUESTÕES DE HISTÓRIA 
E IDENTIDADE DA MULHER BRASILEIRA
Matheus Henrique Marques Sussai

DISCUTINDO A NOÇÃO DE VERDADE HISTÓRICA POR MEIO DA LITERATURA: ALGUMAS REFLEXÕES A PARTIR DO ROMANCE 
HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA DE JOSÉ SARAMAGO
Rodrigo Conçole Lage

ABORDAGENS DA IMIGRAÇÃO NO ENSINO: DESCONSTRUINDO A IMIGRAÇÃO 
PARA A SUBSTITUIÇÃO DA MÃO DE OBRA ESCRAVA 
E APRESENTANDO A IMIGRAÇÃO DO SÉCULO XX E XXI
Rodrigo dos Santos

FEMINISMO E APRENDIZAGEM DE GÊNERO 
NOS MANUAIS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
Samanta Botini dos Santos

PROFESSORES DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAS: 
DIFERENTES ESPAÇOS E TEMPOS DE FORMAÇÃO
Sueli de Fátima Dias e Mario de Souza Martins

REFLEXOS DA DITADURA MILITAR NO ENSINO DE HISTÓRIA
Thaísa Caroline Falcão

DESMISTIFICANDO O ISLÃ EM SALA DE AULA:
O ISLAMISMO PELA ÓTICA DO HUMANISMO
Thays Bieberbarch

#somostodosracistas?


Quatro ex-alunos surgiram na minha conta do Instagram (22/05), curtiram várias fotos e deixaram o seguinte e mesmo comentário em uma delas: #somostodosmacacos. O que pensar?

a) São crianças inocentes que acharam o seu antigo professor de História e resolveram "matar a saudade" com um comentário afetuoso e desprovido de racismo.

b) São crianças inocentes que acharam o seu antigo professor de História e resolveram deixar um comentário ligado a um episódio abordado e discutido em sala de aula durante o Projeto O que há de negro em nós?, desenvolvido com muita seriedade ao longo de todo o ano passado - mesmo a escolha sendo de péssimo gosto, visto que discutimos, entre dezenas de outros, o episódio do Daniel Alves, da banana no campo, da campanha virtual vazia e da venda de camisetas pela lojinha do Luciano Huck. Em outras palavras, são crianças inocentes que resolveram mostrar para o seu antigo professor de História, consciente ou inconscientemente, que não entenderam nada.

c) São crianças inocentes que acharam o seu antigo professor de História e resolveram "brincar" usando as mais caras e melhores ferramentas tecnológicas para nada de construtivo e útil, em relação à sua formação intelectual, sem a supervisão dos responsáveis.

d) São crianças inocentes que acharam o seu antigo professor de História e resolveram ofendê-lo com um comentário infeliz - aproveitando que ele não faz mais parte do cotidiano.

Faixa etária: apenas treze anos. Estamos falando de alunos da rede particular, de colégio caro, famosinho e, majoritariamente, branco, ok? São os pequenos cidadãos da cidade mais "civilizada", "desenvolvida" e "moderna" do Brasil. Não estamos falando de alunos da rede pública! Seria exagero classificar a atitude deles como desrespeitosa, imatura, invasiva, preconceituosa e violenta? Que tipo de Educação é essa?

Prefiro não escolher nenhuma alternativa, nenhuma resposta. Tenho orgulho de lecionar como tenho lecionado. De abordar temas polêmicos e sérios visando a formação de cidadãos-humanos. Fiz, até aqui, a minha parte. E, como um bom professor, não deixo de aprender com os meus alunos - mesmo não dando mais aula para eles. Isso só confirma que eu fiz bem em largar a docência em 2015 e continuar estudando e pesquisando para voltar às salas de aulas mais firme e mais forte - mais pra frente. Até aprendi a restringir o acesso da minha conta do Instagram. Grato!

#somostodosnegros
#somostodoshumanos
#somostodosprofessores
#racismoécrime
#lei10639/03
#históriaeculturaafricanaeafrobrasileira
#projetooquehádenegroemnós?
#porumensinosériodaHistória
#nãovoudesistirdaEducação
#serprofessoréparaosfortes
#porumaeducaçãocríticaehumana

[Na tentativa de compreender o ocorrido, enviei uma mensagem para os quatro pela minha conta do Facebook onde reúno ex-alunos, alunos e colegas de profissão ("Não entendi o #somostodosmacacos em uma foto do Instagram. Você poderia explicar o motivo? Obrigado!"). As três garotas não responderam até o momento (24/05). O garoto respondeu ("Seu burro se não entende as coisas"). Não sinto a mínima vergonha de tudo isso. Sinto vergonha apenas da educação dada às crianças inocentes!]

[Levei dois dias para pensar o que fazer com tal fato. Poderia muito bem ignorá-lo. Mas, dentro do contexto em que nos encontramos e estamos vivendo, acho importante deixar registrado por questões educacionais, éticas, humanas, legais e políticas. Seguirei abraçado com a docência, com a causa e com a temática!]